Bombeiros ainda buscam por 11 das 270 vítimas atingidas pelo mar de lama que vazou da barragem da Vale em 25 de janeiro de 2019. Desastre continua fortemente presente na vida de familiares e sobreviventes.Valquíria Costa se emociona ao avistar a área onde trabalhou por três meses nas buscas das vítimas soterradas em Brumadinho. Ela mostra o muro de concreto recém-construído que agora esconde a visão do terreno por onde grande parte do mar de lama escorreu, em 25 de janeiro de 2019, após o colapso da barragem B1 da mina Córrego do Feijão, da Vale. Do outro lado, máquinas remexem o solo e abrem estradas a todo vapor.
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O muro não consegue esconder a ponte que foi destruída. Por debaixo dela, o tsunami de rejeitos levou as colunas de sustentação, acabou com a paisagem e matou 270 pessoas, inclusive duas mulheres grávidas. Um ano depois da tragédia, 11 vítimas ainda não foram localizadas, e o trabalho dos Bombeiros segue ininterruptamente.
De costas para o muro, a ex-motorista de caminhão de uma terceirizada da Vale e bombeiro civil diz ter encontrado partes de corpos durante as buscas. O trabalho difícil tinha um objetivo: localizar o irmão desaparecido.
Wagner Miranda, de 38 anos, era operador de máquina numa outra unidade da Vale, mas no dia do rompimento foi chamado, excepcionalmente, para a mina Córrego do Feijão. “Ajudei a evacuar pessoas no meu bairro e vim para a área sem saber que meu irmão estava debaixo daquela lama toda”, conta Valquíria à DW Brasil, apontando na direção da mina.
A poucos metros dali, homens contratados há sete meses para pavimentar as novas vias se abrigam da chuva debaixo de uma tenda. Eles dizem ter muito medo de que outra barragem da mina, a B6, se rompa durante a estação chuvosa. A estrutura, que fica ao lado da antiga B1 e resistiu ao impacto, armazena de 3 a 4 milhões de metros cúbicos de água.
Enquanto trabalhava nas buscas, Valquíria ajudou a evacuar a área pelo menos duas vezes devido aos riscos apresentados pela B6. Questionada pela DW Brasil, a Vale respondeu que a estrutura está estável e é monitorada por radares e robôs.
Dois anos antes de a B1 romper, a Vale já sabia que a situação da barragem era crítica, conforme detalhou a investigação do Ministério Público de Minas Gerais e da Polícia Civil. O alerta à diretoria da mineradora veio também de funcionários. Ainda assim, a certificadora TÜV Süd emitiu em setembro de 2018 um laudo que atestava a estabilidade da B1, que se desmancharia em poucos segundos quatro meses depois.
(Com informações do Portal Terra)