NOTA DE PESAR – UFMA lamenta a morte do líder Manoel da Conceição Santos

É com profundo pesar que a Universidade Federal do Maranhão (UFMA) comunica o falecimento do líder político e camponês Manoel da Conceição Santos, ocorrido nesta quarta-feira, 18, aos 85 anos. Ele estava na UTI do Hospital Macrorregional de Imperatriz, após quatro semanas internado. Ontem ele havia sido intubado após adquirir uma broncopneumonia aguda, com sangramento. Ele estava morando em Imperatriz com sua esposa Maria Denise Barbosa Leal e era pai de Raquel Pinto, Manoel da Conceição Filho, Mariana Conceição e Rosinha Pinto, que faleceu com 20 anos, vítima de acidente de trânsito, em Recife-PE.

Líder camponês Manoel da Conceição (Foto Reprodução)

Ele também era pai do professor Manoel Pinto da Conceição, dos cursos de Licenciatura em Ciências Humanas e de Pedagogia, do CCSST – Imperatriz.

Nascido em 1935, no lugarejo conhecido por Pedra Grande, município de Coroatá, Estado do Maranhão, aprendeu ainda quando criança, com seu pai, as atividades de trabalhador rural e de ferreiro. Sua trajetória política começa quando sua família é expulsa das terras – herdadas dos avós – por proprietários fundiários que exploravam os trabalhadores através do mecanismo da renda da terra. Seu grupo familiar enfrentou situações de conflito por terra em vários lugares até se estabelecer, em 1962, no Vale do Pindaré.

Sua trajetória política começa nessa região, onde iniciou sua formação sindicalista com o trabalho realizado pelo Movimento de Educação de Base – MEB. Esse trabalho resultou na criação de 28 Escolas Comunitárias de Alfabetização de Adultos, que na época recebeu o nome de “Escola João de Barro”, no município de Pindaré-Mirim. As lideranças camponesas que surgiram desse trabalho fundaram o Sindicato dos Trabalhadores Rurais Autônomos de Pindaré-Mirim. Em 1964, Manoel da Conceição foi eleito presidente em uma Assembleia Geral Extraordinária, com a presença de 3.000 lavradores, levantando a bandeira de morte ao gado que invadisse os plantios da comunidade. Em defesa dos plantios e do preço da produção, organizou as roças coletivas, nas quais a comunidade trabalhava em regime de mutirão e armazenava a produção em paióis (pequenos armazéns) comunitários.

Boa parte da sua trajetória foi marcada pela resistência à ditadura militar após o golpe de 1964. Tudo começou quando viu as terras dos seus pais sendo tomadas por grandes fazendeiros e, nessas lutas territoriais na região, foi baleado em um dos pés. Mesmo ferido, foi preso e, após alguns procedimentos médicos em São Paulo, teve uma das pernas amputada. Ainda assim, não parou de organizar sindicatos e cooperativas, além de sempre lutar pela reforma agrária. Passou a ser visto pelo governo como um subversivo. Ficou preso por mais de três anos, foi torturado diversas vezes, até que se refugiou em Genebra, na Suíça. Na Europa, realizou diversas palestras e debates com o apoio da Anistia Internacional e demais entidades dos direitos humanos.

Manoel Conceição Santos foi um dos maiores articuladores da luta camponesa em resistência ao regime militar no país. Começou organizando o sindicato de trabalhadores rurais no vale do Pindaré, posteriormente contribuiu na organização de entidades importantes no cenário nacional como a Central Única dos Trabalhadores – CUT, o Partido dos Trabalhadores – PT e o Centro de Educação e Cultura do Trabalhador Rural – CENTRU.

No dia 23 de novembro de 2010, ele recebeu, pela Universidade, o título de Doutor Honoris Causa, honraria atribuída a personalidade que se tenha distinguido pelo saber ou pela atuação em prol das artes, das ciências, da filosofia, das letras ou do melhor entendimento entre os povos. O título registra o reconhecimento de uma trajetória de luta por justiça e direitos politicos, econômicos e sociais ao povo brasileiro, particularmente, para aqueles mais excluidos, os trabalhadores e trabalhadoras rurais.

Manoel da Conceição Santos, nascido no Vale do Itapecuru, cidadão do Brasil e do Mundo: um lutador incansável, um coração generoso, doutor dos mistérios da natureza e das relações humanas, um homem imprescindível!

A Universidade se solidariza com familiares e amigos e presta seus votos de consternação.

Fontes de apoio: Blog do John Cutrim e Domingos Cantanhede

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