Longe das geladeiras e prateleiras de pontos de venda da Ilha de São Luís e de parte do interior maranhense, a Cola Jeneve, refrigerante de coloração cor-de-rosa, feito à base de cravo e canela, está de volta ao mercado local. Maior concorrente do Guaraná Jesus, sua saída de cena aconteceu no fim da década de 1990, quando foi originada a Ambev, em decorrência da fusão entre as cervejarias Brahma e Antarctica.
Passadas mais de duas décadas, o agora Guaraná Jeneve pode ser visto, sem muita dificuldade, em gôndolas de supermercados e mercearias da cidade de SãoLuís, inclusive com degustação em lojas do autosserviço. A Fábrica de Refrigerantes Psiu é a atual responsável por sua produção e distribuição no mercado, no entanto, além da mudança de nomenclatura, a bebida sofreu um duro golpe em sua logomarca original.
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Isso porque houve, digamos assim, um exagero na estratégia de marketing para o relançamento do produto. De Cola Jeneve passou a chamar-se Guaraná Jeneve e o que é pior, modificaram a litografia e adicionaram a cor azul no rótulo do produto. É sugestivo dizer que a ideia seria aproximar a “nova marca” ao Guaraná Jesus e ao Sonho, outro refrigerante de cor rosa com grande participação na periferia, que integra o portfólio da Indústria de Refrigerantes River e ao próprio Psiu Teen, da nova detentora da marca.
Assim, é sugestivo também dizer que essa mudança no rótulo do Jeneve não passa de uma cópia mal feita do Jesus, tradicionais refrigerantes genuinamente maranhenses, que disputavam gole a gole a preferência do público infantil e dos marmanjos, durante as décadas de 1980 e 1990.
SOBRE A ORIGEM DO JENEVE – A marca foi criada entre o final da década de 1960 e início da década de 1970 pela Indústria Jesus S/A (IJESA), localizada no bairro Filipinho, em São Luís, produtora da Cola Guaraná Jesus. O objetivo foi dar nome aos sorvete, picolé e leite pasteurizado Jeneve, que circularam no mercado local por alguns anos. Logo após a venda da IJESA para o Grupo Antarctica, em meados dos anos 70, estes produtos “saíram de linha”, inclusive o refrigerante Jesus, pois a cervejaria paulista entendeu que poderia criar (e criou) uma fórmula similar. Tanto foi assim, que os maranhenses foram brindados com a Cola Jeneve, cujo slogan publicitário era “A onda é curtir Cola Jeneve…“.
Aliás, compete dizer que o reinado absoluto da Cola Jeneve durou até 1981, quando foi sucumbido com a volta implacável do “Sonho Cor-de-rosa”, que na época levou os consumidores de várias faixas etárias a assistirem um comercial de TV com 60 segundos, contando a história e o retorno do Guaraná Jesus. Produzido e envazado pela Companhia Maranhense de Refrigerantes (Grupo Lago, hoje Solar), o Jesus, tal qual o Jeneve, eram envazados somente em garrafas de vidro de 290 ml, litografadas com seus respectivos rótulos.
Entre os anos 80 e 90, diante da grande aceitação popular, o Grupo Antarctica, no Maranhão, passou a ter “dois carros-chefes”, no caso o Guaraná Antarctica e a Cola Jeneve. De igual maneira, o Grupo Lago foi reconhecido nacionalmente por ter duas “cocas-colas”, pois o fenômeno Guaraná Jesus causava, como causa até hoje, volumes de vendas impressionantes para a matriz da Coca-Cola Brasil (CCIL).
Como citado no início do texto, a Ambev retirou a Cola Jeneve do mercado, na virada do milênio, sob o pretexto de que se tratava de uma tubaína local de pouca aceitação em outras praças. A vaidade da gigante cervejaria não permitiu misturar à sua nobre linha de refrigerantes (Guaraná Antarctica, Pepsi, Sukita, Soda Limonada e Água Tônica) a modesta, porém muito apreciada Cola Jeneve.
Agora, o produto está de volta, após um mega acordo comercial firmado entre empresas e empresários. Isso reforça o “adágio etílico”, usado costumeiramente em bares de São Luís, por alguns frequentadores, quando um determinado consumidor ingere, em excesso, bebidas alcoólicas e alguém diz: “Ele saiu daqui chamando Jesus de Jeneve”…
O GUARANÁ JENEVE É MUITO MAIS GOSTOSO QUE O GUARANÁ JESUS.