Quem utiliza os serviços oferecidos pelas duas empresas de ferry-boat que operam na travessia da Ilha de São Luís para a Baixada Maranhense, tem motivos de sobra para reclamações e revolta. As razões para tanta insatisfação são as mais variadas possíveis, com destaque para o elevado preço das tarifas cobradas, principalmente, para veículos, cuja única forma de compra presencial dos bilhetes é feita somente com pagamento em espécie.
As empresas Serviporto e Internacional Marítima, detentoras destes serviços, juntas, oferecem em média, doze viagens por dia, em horários intercalados e previamente definidos, saindo do Terminal da Ponta da Espera, em São Luís, para o Terminal de Cujupe, do outro lado da baía, com o mesmo procedimento na volta. No entanto, mesmo com viagens extras, esta programação de travessias, torna-se insuficiente em períodos festivos e nos feriados prolongados, o que acaba resultando nas intermináveis e cansativas ‘filas de espera’, para quem deseja seguir viagem com seus veículos.
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Isso porque, além do transporte de pessoas e de cargas, os ferry- boats têm como principal função, a travessia de veículos leves e pesados. Carros, motocicletas, caminhões, micro-ônibus e até tratores, em algumas ocasiões, seguem numa espécie de “procissão” em direção à rampa de acesso para estas embarcações, transportando pessoas, assim como uma variedade de produtos nos dois sentidos da viagem. E é neste serviço específico que Serviporto e Internacional Marítima obtêm suas mais pomposas receitas financeiras.
Os preços das tarifas para transporte destas “cargas” são tabelados de acordo com o tamanho do veículo, ficando isento da tarifa somente seus condutores. Para um automóvel de pequeno porte, por exemplo, os valores variam de R$77,00 a R$ 88,00, conforme informação da Serviporto. Já a tarifa para uma caminhonete custa R$ 100,00; caminhão trucado vazio são cobrados R$ 180,00; e estando carregado, a despesa aumenta para R$ 225,00. Cada passageiro paga doze reais por viagem e alguns têm direito a meia quando o caso requer; idosos não pagam pelo bilhete.
Como se observa, a travessia marítima de São Luís para o Cujupe é um negócio com ganhos estratosféricos para o setor empresarial, devido a grande movimentação de veículos que seguem diariamente por esse caminho, em virtude da precariedade do principal acesso rodoviário para a Baixada Maranhense que é a rodovia estadual MA-014. Aliás, por este percurso, além da distância aumentar em dezenas de quilômetros, gerando custos com combustível e depreciação do veículo, as condições da estrada acabam por provocar prejuízos para quem insiste em utilizar esta rota.
PAGAMENTO EM ESPÉCIE – Quem utiliza o serviço de ferry-boat no Maranhão de forma contínua, reclama da forma de pagamento presencial tanto na Ponta da Espera, quanto no Cujupe. As passagens são vendidas apenas com pagamento à vista e em espécie, o que força o usuário ter sempre que andar com dinheiro no bolso. Somente quem adquire as tarifas pela internet pode pagar com cartões de débito/crédito, mas essa prática ainda é pouco utilizada pelos consumidores maranhenses. Outra situação que merece destaque é que os bilhetes das passagens não têm valor fiscal, portanto, sugestivo de apuração junto aos órgãos fiscalizadores.
DESCONFORTO E INSEGURANÇA – Nem sempre estas embarcações oferecem condições de higiene, salubridade e segurança para quem está a bordo. Passageiros questionam as condições de limpeza dos banheiros e a forma como alimentos e bebidas são manipulados e comercializados nas lanchonetes dos ferry-boats. Além do mais, em alguns casos, o cheiro forte de óleo diesel chega a incomodar as pessoas.
As rampas de acesso em terra para as embarcações, em ambos os lados, não oferecem tanta segurança e conforto, principalmente para idosos, crianças, gestantes e quem tem dificuldade de locomoção. Também é comum pessoas acometidas de enfermidades viajarem de ferry-boat com destino a São Luís para tratamento de saúde, inclusive quem faz hemodiálise. Para elas, a travessia se transforma num longo sofrimento, pois muitas vezes, pacientes têm que ficar dentro dos carros que os transportam de suas cidades, ficando expostos a temperaturas elevadas e sujeitos ainda, a terem que suportar, durante a viagem, o barulho provocado pelo maquinário da embarcação.
TEMA COMPLEXO – Diante de tantos questionamentos, entraves e problemas para os usuários dos ferry-boats, conflitantes com os ganhos unilaterais por parte de empresários do setor, pode-se evidenciar que este tema, além de complexo e abrangente, é antigo e sem perspectiva de solução imediata. Fica portanto, o alerta para que a Agência Estadual de Mobilidade Urbana e Serviços Públicos (MOB), Capitania dos Portos, Corpo de Bombeiros, Empresa Maranhense de Administração Portuária (Emap), Assembleia Legislativa, Procon, Ministério Público, através da Promotoria do Consumidor e demais órgãos ligados a este importante serviço, façam investidas tanto no Terminal de Ponta da Espera, quanto no Terminal do Cujupe, ouvindo as empresas Serviporto e Internacional Marítima, assim como usuários deste tipo de transporte marítimo, chamados aqui de consumidores em potencial.