NEM O RELÓGIO RESISTIU – As marcas não deixadas pelo tempo no bairro do João Paulo

Os antigos contam que o nome dado ao bairro do João Paulo foi em alusão ao proprietário de um grande sítio que existia nesta região de São Luís. Sabe-se também, que este tradicional bairro já foi considerado o segundo maior polo comercial da capital maranhense, ocasião que perdia em movimento mercantilista, somente para a região central da cidade.

Antigo Relógio do João Paulo (Imagem Minha Velha São Luís)

Dono de um aglomerado de lojas de móveis, eletrodomésticos, tecidos, confecções e peças automotivas, o João Paulo, em seu apogeu, também era o endereço certo dos principais armazéns de cereais, onde a comercialização de produtos por atacado foi a sua maior referência. Ainda hoje, a Rua Riachuelo e suas transversais oferecem “venda a grosso”, mas longe do que acontecia durante as décadas de 1960, 70 e 80.

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“Imprensado” entre o antigos bairros do Cavaco, Apeadouro, Caratatiua e Jordoa, o João Paulo de tantas tradições, ainda abriga o imponente quartel do 24° Batalhão de Infantaria de Selva, com direito a estátua e praça de Duque de Caxias de frente para o edifício branco e verde-oliva do Exército Brasileiro. Também sobrevive na “comunidade joão-paulina”, há mais de 90 anos, a Escola de Samba Turma de Mangueira, com suas cores verde e rosa e suas batucadas dominicais.

Mas o João Paulo perdeu muita coisa! O Mercado Público do bairro deu lugar a uma escola municipal; o Cine Rex virou agência bancária; e o Clube Montese se transformou numa desordenada feira livre. Nesse clima saudosista, já quase não se ouve falar do Bumba-Boi do João Paulo, no sotaque de matraca, mesmo com o resistente “encontro boieiro” no Dia de São Marçal. No futebol, o bairro era representado pela Sociedade Esportiva São José, com seu uniforme de predominância na coloração azul, que fazia o singular “Clássico dos Pequenos” com o Vitória do Mar.

Não se pode esquecer da torrefação e moagem do Café Caravelas, preferido dos maranhenses e da Indústria Gandra S/A com seu “sabão Girafa” nas cores verde e laranja. A empresa de ônibus Alves era a responsável pelo transporte coletivo de moradores, comerciantes, trabalhadores e visitantes do bairro. O bonde elétrico também estendia uma de suas linhas pela principal avenida do João Paulo, seguindo até o bairro do Anil.

Para não perder o horário, transeuntes que passavam pelo João Paulo eram orientados por um gigantesco relógio instalado numa mini rotatória, na confluência das avenidas Getúlio Vargas, Kennedy e João Pessoa. A estrutura do relógio de quatro lados também servia de painel publicitário para lojistas anunciarem seus produtos e serviços. Vale lembrar, que o equipamento, antes de ser retirado por completo, foi parcialmente depedrado durante o movimento estudantil grevista da Meia-Passagem, em 1979.

Aliás, por falar em tempo e memória, o João Paulo, além de tantas perdas que deixaram saudade, ainda perdeu o nome de sua principal artéria pública. O que antes era Avenida João Pessoa, agora é Avenida São Marçal, endereço de dois tradicionais estabelecimentos de ensino de São Luís, que seguem firme. O Colégio Batista Daniel de La Touche, do segmento evangélico e a Escola São Vicente de Paulo, de linhagem educacional católica.

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