No momento em que a cidade de São Luís passa por uma paralisação no sistema de transporte público rodoviário, o Blog Hora Extra publica um rico material, considerado um acervo rico e puro, de autoria do Professor Paulo Sá Vale, datado de 25 de setembro de 2019. Trata dos tempos em que o charmoso bonde elétrico era o principal modal de transporte coletivo da capital maranhense. Confira.
A capital maranhense já foi conhecida como a cidade dos bondes, mas a exemplo de outras cidades, foi gradualmente adotando um modelo rodoviarista.
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Por: Paulo Sá Vale (25/09/2019)
Atualmente, São Luís detém um modelo rodoviarista de mobilidade urbana, focado no automóvel particular, assim como boa parte das capitais brasileiras. Contudo, nem sempre foi assim. A capital maranhense já foi conhecida como a cidade dos bondes que, devido a compactação de seu núcleo urbano, desempenhavam um papel muito eficiente de mobilidade urbana, levando os cidadãos da urbe para todo território do até então pequeno núcleo urbano.
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Foto: IBGE (Reprodução)
Mas o que mudou na cidade de São Luís para que os trilhos fossem inviabilizados? O que fez a cidade se tornar mais um modelo rodoviarista, embora tivesse um sistema completo, complexo e eficiente de mobilidade sobre os trilhos? De que maneira essas questões podem nos auxiliar a entender e gerir uma melhor mobilidade urbana? Para responder estas questões, é necessário entender o contexto em que tais ações aconteceram.
A inserção dos bondes na cidade colonial
Ao longo do século XVIII e XIX, o estado do Maranhão vivenciou um rápido crescimento econômico, o que Pereira destaca como “A idade do Ouro” da cidade. Este crescimento era baseado sobretudo na mão de obra escrava e na agricultura do algodão, o qual exportou de forma majoritária para a Inglaterra, quase sem competição, enquanto durou a Guerra Civil Americana (1861–1865) e até a plena recuperação das terras produtivas do sul dos EUA.
Tal enriquecimento fez com que a elite da cidade enviasse seus filhos para estudar nas maiores universidades do país (Recife e Rio de Janeiro) e na Europa, especialmente em Portugal. Tal fato fez com que a cidade recebesse a alcunha de “Atenas Brasileira”, uma vez que esse investimento em capital humano possibilitou que aqui surgisse, no período citado, uma grande geração de escritores e poetas, como Graça Aranha, Coelho Neto, Arthur Azevedo, Aluísio de Azevedo e muitos outros.
Além disso, por exigência das elites, os gestores aplicaram na capital maranhense elementos que viam nas cidades europeias durante a sua viagem, como sistema de iluminação pública, companhia de telefones e telégrafos e os bondes. O dinheiro do algodão, que colocava São Luís como uma das capitais mais ricas do país, possibilitou a introdução destas novas tecnologias. Além disso, praças, monumentos e edificações, como o Teatro Arthur Azevedo (em estilo neoclássico) foram obras deste momento histórico.
Desse modo, segundo o professor Luiz Phelipe Andrés, em 1868 foi criado o primeiro sistema de transporte coletivo do Norte e Nordeste na cidade de São Luís — os bondes de tração animal, também conhecidos como ”tramwais”. Posteriormente, já na década de 1920, os bondes passaram a ser elétricos, o que tornou o transporte ainda mais eficiente.
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Mapa viário dos bondes elétricos em 1965.
Ademais, segundo o professor Lopes, durante a década de 1940, a cidade de São Luís começou a se expandir para além do núcleo inicial, ao qual se manteve concentrado desde a fundação da cidade e a criação do ordenamento urbano por Frias de Mesquita. Essa expansão, em boa parte, foi possível graças aos bondes elétricos, que iam até a região do Anil. Outros fatores, como abertura de novas avenidas (Avenida João Pessoa e Getúlio Vargas) e a ferrovia São Luís–Teresina também foram importantes no processo.
Durante as décadas anteriores ao fechamento das linhas de bondes, as empresas que participavam da manutenção e gestão das linhas passaram por inúmeros problemas, até que no ano de 1966, o último bonde circulou na cidade de São Luís. O argumento utilizado para tal foi que eles causavam transtorno no tráfego da cidade.
Ao longo das décadas seguintes, alguns gestores, como Fecury, chegaram a cogitar a volta de algumas das linhas de bondes, mas não saiu do papel e hoje as linhas dos antigos bondes estão cobertas pelo asfalto. A retirada dos bondes, como se pode imaginar, não foi capaz de resolver o problema do trânsito, que só piorou com o passar dos tempos.
(Material de domínio público com citação do autor no início do texto)
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