Com os acontecimentos que culminaram na morte do americano George Floyd, assassinado por um policial branco após ter sido imobilizado e asfixiado em Minneapolis, nos EUA, no dia 25 de maio de 2020, discussões sobre o racismo invadiram as redes sociais. Porém, uma questão latente existe dentro de todo este contexto de protesto à morte de Floyd: quantos Floyds já existiram antes dele? Outro assunto mais urgente ainda é: “quantas Floyds” existem por trás da trajetória negra pelo mundo e, particularmente, no Brasil? Ora, se o homem negro é vítima do racismo ao longo da história, imaginemos o que passa a mulher negra diante de tal quadro que é discriminada por duas vezes ao mesmo tempo, uma por ser negra e outra por ser mulher inserida numa sociedade machista e preconceituosa.
O dia 25 de julho, reconhecido como o Dia Internacional da Mulher Negra, Latino-Americana e Caribenha deve servir como marco de uma luta pela maior visibilidade da mulher negra no contexto histórico, social, literário e posso elencar diversas áreas onde a sociedade deve posicionar-se a favor desta causa. Em 2014, no Brasil, a mesma data foi estabelecida como Dia Nacional de Teresa de Benguela, por meio da Lei nº 12.987/2014, como símbolo representativo da resistência feminina negra e indígena no país.
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É necessário, portanto, que sejam levantados questionamentos acerca das dificuldades enfrentadas pela mulher negra contemporânea no tocante ao acesso a questões básicas na sociedade (educação, saúde, saneamento básico, oportunidades de emprego), questionamentos sobre as engrenagens racistas de nossa estrutura social que empurram as mulheres negras às condições de subalternização. Por outro lado, a data também serve para salientarmos as mulheres negras importantes de nossa sociedade (que são muitas), para que as demais se vejam representadas, a representatividade incentiva, encoraja, dá empoderamento. Chega de apagamento.
Discutir o racismo e a morte de Floyd e as lutas contra essas práticas é muito importante, mas não podemos esquecer de todas as mulheres negras atingidas pelo duplo preconceito todos os dias, as Floyds sufocadas pelo sistema de uma estrutura patriarcal e racista que não são alcançadas pelas câmeras de um celular, porque vivem este sufocamento no silêncio de suas casas e de seus dias e carregam suas culpas na cor da pele e no seu gênero. Mulher negra! Resistência! Resiliência!
*Paulo Sergio Gonçalves é professor da Estácio/RS e doutorando em Literaturas Africanas