Desde que as igrejas católicas foram fechadas ao público na Itália, por conta da pandemia de coronavírus, o Vaticano tem transmitido online as missas matutinas diariamente celebradas pelo papa Francisco, às 7h (de Roma).
Com o começo da volta da normalidade no país, o sumo pontífice anunciou que nesta segunda-feira, dia 18, ocorrerá a última transmissão do tipo. E não poderia ser mais simbólica: trata-se da missa em memória ao centenário de nascimento do papa João Paulo 2º (1920-2005), justamente aquele que é considerado o primeiro papa pop, o primeiro a ter sua vida constantemente sob os holofotes.
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Nascido na Polônia — seu nome de batismo era Karol Jósef Wojtyla —, João Paulo rompeu uma tradição de papas italianos que vinha de mais de 450 anos atrás. Antes dele, o último papa não italiano havia sido Adriano 6º (1459-1523), holandês.
“São João Paulo 2º introduziu uma nova face no pontificado: foi um papa polonês, depois de um longo período de papas italianos. Além disso, ele era originário de um país com regime comunista, o que causou enorme surpresa e esperanças”, afirma, à BBC News Brasil, o cardeal arcebispo de São Paulo, Odilo Pedro Scherer.
“Ele teve um papel decisivo nas mudanças políticas havidas no Leste europeu e foi muito ativo e influente nos processos de diálogo para a superação de conflitos e o estabelecimento da paz. Foi um batalhador pela dignidade humana e por maior justiça social e econômica no mundo.”
Seu papado marcou um momento em que o mundo vivia uma forte divisão entre ocidente e oriente, com Estados Unidos e União Soviética na disputa conhecida como Guerra Fria. Era época e lugar para o debate entre mundo capitalista e mundo socialista. Ao mesmo tempo, ele herdou uma Igreja intensamente empenhada em seu papel social, sobretudo após o concílio Vaticano 2º (realizado entre 1962 e 1965) — e foi essa guinada à esquerda que ele procurou conter.
“A maior contribuição histórica de João Paulo 2º, independentemente de seus méritos pessoais, mas como fato objetivo, foi reconduzir a Igreja pós-conciliar para um caminho mais religioso”, avalia à BBC News Brasil o sociólogo Francisco Borba Ribeiro Neto, coordenador do Núcleo Fé e Cultura da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). “Isso deve ser bem entendido, olhando-se o momento em que viveu.”
“A década de 1960 viu a ascensão de uma visão secularizada da Igreja, que se afirmaria no futuro por seu papel social, vide Teologia da Libertação, e por sua adesão a uma espiritualidade fluída, marcadamente individualista e um pouco esotérica. João Paulo 2º reconduziu a Igreja à sua mística original, o que se confunde em certa medida com o movimento conservador, mas o ultrapassa”, complementa.
Na biografia oficial divulgada pelo Vaticano quando João Paulo se tornou santo, em 2014, ressaltou-se a “personalidade poliédrica e carismática” do religioso. “Afirmou-se imediatamente pela grande capacidade comunicativa e pelo estilo pastoral fora dos esquemas”, pontua o texto. “A têmpera e o vigor de uma idade relativamente jovem [quando foi eleito papa, em 1978] permitiu que empreendesse uma atividade intensíssima, ritmada sobretudo pelo multiplicar-se das visitas e das viagens.”
Para o padre jesuíta norte-americano James Martin, consultor do Vaticano, além da multiplicidade de trabalhos, o tanto que João Paulo 2º pregou ao redor do mundo ressalta seu valor. “São João Paulo foi tantas coisas! Um padre, um filósofo, um teólogo, um escritor, um ativista, um organizador, mas, acima de tudo, um evangelista”, afirma.
(Da BBC News Brasil)