As pessoas costumam fazer planos para o Ano Novo, para acertar mais e errar menos. São promessas feitas sinceramente por uns, determinados a viabilizar projetos e alcançar objetivos. Outros, as fazem por hábito. Porém, desconfiados de que não conseguirão. Estes já começam vencidos pelo desânimo.
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Recomeçar não é fácil. Exige disposição, honestidade e coragem: primeiro para reconhecer os erros e, depois, para efetivamente mudar hábitos, condutas e até conceitos e/ou valores.
Essa decisão não deveria esperar cada passagem de ano, mas ser permanente, diária, para se estar vigilante sobre se o que fazemos é prejudicial para alguém ou se poderíamos estar fazendo algo em benefício do próximo. Esta, presumo, deveria ser a conduta humana, característica que distingue o ser humano dos demais animais.
Entretanto, não raro vê-se animais irracionais terem atitudes protetivas e solidárias enquanto humanos agem como feras selvagens ou serpentes, lesionando e matando seus semelhantes, com requintes de crueldade, e os lesando e matando solertemente através da corrupção. Não tratamos destes, mas daqueles que efetivamente querem ser pessoas melhores.
Mas não é fácil recomeçar. Nem para os cristãos. Não basta ser batizado, crismado, ir à missa, pagar dízimos, dar esmolas, confessar, comungar. É muito mais do que isso. É desafio permanente.
No livro O cristão desafiado (São Paulo, Loyola, 1991) o padre maranhense João Mohana põe o leitor no epicentro do conflito entre a fé e a realidade, o que somos, o que gostaríamos de ser e o que deveríamos ser. Mas abre uma janela para aliviar angústias e dar novas chances, quer no dia 1º de janeiro de cada no ano, quer a cada instante da vida de qualquer pessoa: é da natureza humana a possibilidade de errar, bem como de recomeçar, na mesma quantidade infinita da resposta de Jesus a Pedro sobre o perdão – Setenta vezes sete.
Recomeçar não é privilégio de cristão. É um desafio para o ser humano. É uma opção permanente que se inicia a cada nascer do sol. Dessa decisão vai resultar o exemplo que queremos, dar, o mundo que queremos construir e deixar para as gerações futuras.
Mohana, que mostra a janela para o recomeço, não alivia, porém, quanto a esse dilema shakespeariano para o cristão e enfatiza: “O ideal de Jesus com respeito ao ser humano é alto. (…) “Embora seja extremamente compreensivo com a fraqueza humana (…), Jesus é exigente com a responsabilidade daqueles que se comprometem com ele com o projeto dele. (…) Decorre dessa postura de Jesus a virtude de recomeçar.”
As circunstâncias do mundo atual, os conflitos que se têm visto no tempo/espaço, podem ser obstáculos ou estímulos para enfrentar os desafios da humanidade. A ambição e a vaidade desmedidas são um verdadeiro suicídio coletivo. Ainda assim a decisão é pessoal, cotidiana, permanente. Estamos dispostos a recomeçar? Agir para o bem ou para o mal? Essa decisão, consciente, não tem como evitar esse maniqueísmo.
O que queremos e o que faremos para isso em 2020?
(*Advogado e jornalista)